segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Força, Lula!

Este blog faz uma pausa na celebração da poesia para desejar ao ex-presidente Lula sucesso em mais uma batalha numa vida de superação, bem como para repudiar as manifestações desrespeitosas e sórdidas no momento de maior fragilidade do ser humano.
Força, Lula!


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Mário Quintana

O último viandante

Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem sabia mais aonde ia...
Era um caminho
velhinho,
perdido...
Não havia traços
de passos do dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho...
Eu vi..
Porque são os passos que fazem o caminho.

            Mário Quintana em: A cor do invisível

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ferreira Gullar

Inseto
Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica

Também mais complexo
                        que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)

e pode às vezes
                       (o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
             ou quem sabe
                                   uma vida.



FERREIRA GULLAR. Em alguma parte alguma.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ai se sesse

  "Os nomes dos poetas populares deveriam estar na boca do povo."
                                              Antônio Vieira




                                        Ai se sesse, do poeta Zé da Luz
                                        Vídeo do Cordel do Fogo Encantado

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Antônio Nóbrega

Este blog reverencia um grande artista popular contemporâneo. Salve Antônio Nóbrega!


 Chegança

Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-o, Tupinambá. (...)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Patativa do Assaré


Saudade

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.
Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

   Patativa do Assaré

domingo, 9 de outubro de 2011

Bertolt Brecht

Satisfações

À primeira mirada pela janela ao despertar
volto a encontrar o velho livro
rostos entusiasmados
neve, a mudança das estações
o períodico,
o cão,
a dialética,
banhar-se, nadar
música antiga
sapatos cômodos
compreender
música nova
escrever, plantar
viajar
cantar
ser amável.

            Bertolt Brecht: Antologia Poética

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Três anos em Belo Horizonte haviam me transfigurado. Vivia no planeta Terra sabendo detalhadamente o que acontecia mundo afora. Não só sabendo, mas tomando partido. Isso aprendi com os comunistas, a ser responsável pelo destino humano. Tudo o que ocorra a um povo de qualquer parte me interessa supremamente, obriga-me a apoiar-me ou opor-me, impávido. Essa postura ética que presidiu toda a minha vida, conduzindo-me na ação política, em todas as instâncias dela, é um de meus bens mais preciosos. Dói-me hoje ver que a juventude  de agora não tem nada assim para fazer as suas cabeças e ganhá-los para si mesmos e para seu país."

               Darcy Ribeiro em: Revivendo o que Vivi

domingo, 2 de outubro de 2011

Cecília Meireles

HUMILDADE

Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás das grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê.

                    Cecília Meireles em: "Dispersos"