terça-feira, 23 de julho de 2013


         PACTO
Que união floral existe
entre as mulheres e Di Cavalcanti?
Se o que há nelas de fero ou triste
a ele se entrega, confiante?

Que chave lhe deram, em São Cristóvão,
para abrir a porta dos olhos,
- e no labirinto escuro se acendem
lumes de paixão, ignotos?

Quem lhe soprou a ciência plástica
de resumir em cor o travo
das mais ácidas, o mel intenso
das suburbanas, o peso imenso
de corpos que sonham dar-se?

E o que ele aprendeu do corpo
sem alma, porque toda a alma
como uma víbora calma,
coleia na pele do rosto?

E essa pegajosa linguagem
de desejo a surdir da gruta,
e esse suspiro, aí Deus, telúrico,
de sangue moreno-sulfúrico?

É o Rio que, feito rio
de vivências, lhe flui nas tintas
de um calor pedindo nudez?
O engenho de cana avoengo,
a mastigar doçuras de vez?

São os instintos em grinalda,
num movimento lento e grave,
tão majestoso que a pintura antiga
explode nos jogos modernos
da angústia?

Tudo é pergunta, na criação,
e tudo canta, é boca,
no belveder dos sessenta anos,
entre nuvens escravas.
                                 Multiamante,
Di Cavalcanti fez pacto com a mulher.

Carlos Drummond de Andrade em: "A Vida Passada a Limpo" 

domingo, 21 de julho de 2013

El Dúo Dinámico

Resistiré

              Resistiré
Cuando pierda todas las partidas
cuando duerma con la soledad
cuando se me cierren las salidas
y la noche no me deje en paz

Cuando sienta miedo del silencio
cuando cueste mantenerse en pie
cuando se revelen los recuerdos
y me pongan contra la pared

Resistiré erguido frente a todo
me volveré de hierro para endurecer la piel
y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
soy como el junco que se dobla pero siempre sigue en pie
Resistiré para seguir viviendo
soportare los golpes y jamás me rendiré
y aunque los sueños se me rompan en pedazos
resistiré, resistiré

Cuando el mundo pierda toda magia
cuando mi enemigo sea yo
cuando me apuñale la nostalgia
y no reconozca ni mi voz

Y cuando me amenace la locura
cuando en mi moneda salga cruz
cuando el diablo pase la factura
o si alguna vez me faltes tu

Resistiré erguido frente a todo
me volveré de hierro para endurecer la piel
y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
soy como el junco que se dobla pero siempre sigue en pie
Resistiré para seguir viviendo
soportare los golpes y jamás me rendiré y
aunque los sueños se me rompan en pedazos
resistiré resistiré

Resistiré para seguir viviendo
soportare los golpes y jamás me rendiré y
aunque los sueños se me rompan en pedazos
resistiré resistiré
Resistirei
Quando perder todas as partidas
Quando dormir com a solidão
Quando me fecharem as saídas
E a noite não me deixar em paz.

Quando sentir medo do silêncio
Quando custar se manter de pé
Quando se revelarem as recordações
E me puserem contra a parede

Resistirei, erguido frente a tudo
Envolver-me-ei de ferro para endurecer a pele
E ainda que os ventos da vida soprem forte
Sou como o junco que se dobra mas sempre segue de pé
Resistirei, para seguir vivendo
Suportarei os golpes e jamais me renderei
E ainda que os sonhos me quebrem em pedaços
Resistirei, resistirei...

Quando o mundo perder toda a magia
Quando meu inimigo for eu
Quando a nostalgia me apunhalar
E eu não reconheça nem minha voz

Quando a loucura me ameaçar
Quando em minha moeda sair coroa
Quando o diabo passar a fatura
Ou se alguma vez tu me faltares

Resistirei, erguido frente a tudo
Envolver-me-ei de ferro para endurecer a pele
E ainda que os ventos da vida soprem forte
Sou como o junco que se dobra mas sempre segue de pé
Resistirei, para seguir vivendo
Suportarei os golpes e jamais me renderei
E ainda que os sonhos me quebrem em pedaços
Resistirei, resistirei...

Resistirei para seguir vivendo
Suportarei os golpes e jamais me renderei e
ainda que os sonhos me quebrem em pedaços
resistirei, resistirei. 

sábado, 20 de julho de 2013

Mario Benedetti

Ela me dava a mão e então nada mais faltava. Bastava para que eu me sentisse bem acolhido. Mais que beijá-la, mais que dormirmos juntos, mais que qualquer outra coisa, ela me dava a mão e isso era o amor. 

                                   Mario Benedetti em: "A Trégua"

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mario Benedetti


Mesmo que eu viajasse, que me fosse daqui e tivesse a oportunidade de me surpreender com paisagens, monumentos, caminhos, obras de arte, nada me fascinaria tanto como as Pessoas, como ver as Pessoas passar e esquadrinhar seus rostos, reconhecer aqui e acolá gestos de felicidade e amargura, ver como se lançam a seus destinos, em insaciada turbulência, com esplêndido apuro, e me dar conta de como avançam, inconscientes de sua brevidade, de sua insignificância, de suas vidas sem reservas, sem se sentirem jamais encurraladas, sem admitirem que estão encurraladas.

                                                                                   Mario Benedetti em: "A Trégua"

domingo, 14 de julho de 2013

Mario Benedetti


Do quarto, ela me chamou. Ela havia se levantado, assim, envolta na colcha, e estava junto à janela, olhando a chuva. Aproximei-me, também olhei como chovia, por um instante não dissemos nada. De repente, tive a consciência de que esse momento, de que esse pedaço de cotidianidade, era o grau máximo do bem-estar, era a Felicidade. Nunca havia sido tão plenamente feliz como nesse momento, mas tinha a sensação dilacerante de que nunca mais voltaria a sê-lo, ao menos nesse grau, com essa intensidade. O cume é assim, claro que é assim. Além disso, estou certo de que o cume dura apenas um segundo, um breve segundo, uma centelha instantânea e sem direito à prorrogação.

                                          Mario Benedetti, em "A Tregua"  

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pablo Neruda

Construi a minha casa, enchia de brinquedos e com eles brinco todos os dias. Porque a criança que não brinca não é criança, mas o adulto que não brinca perdeu para sempre a criança que tem dentro o que lhe fará muita falta.
                                                                 Pablo Neruda



                                                    Casa de Neruda em Isla Negra