sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dentro ou fora de mim, todos os dias acontece algo que me surpreende, algo que me comove, desde a possibilidade do impossível a todos os sonhos e ilusões. É essa a matéria da minha escrita, por isso escrevo e por isso me sinto tão bem a escrever aquilo que sinto.
 
                                                                  José Saramago



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ESTADO DE POESIA
(Chico César)


Para viver em estado de poesia
Entranharia nestes sertões de você
Pra me esquecer da vida que eu vivia
De cigania antes de te conhecer
De enganos livres que eu tinha porque queria
Por não saber que mais dia, menos dia
Eu todo me encantaria pelo todo do teu ser



Pra misturar meia noite, meio dia
Enfim saber que cantaria a cantoria
Que há tanto tempo queria
A canção do bem querer
É belo vês o amor sem anestesia
Dói de bom
Arde de doce
Queima a calma
Mata, cria
Chega tem vez que a pessoa que enamora
Se pega e chora do que ontem mesmo ria
Chega tem hora que ri de dentro pra fora
Não fica, nem vai embora
É o estado de poesia

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

 
Autodefinição

À folha branca de papel faço o meu risco
Retas e curvas entrelaçadas.
E prossigo atento e tudo arrisco na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos pelo ar,
pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar,
encontrará, em todos, os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava. ...
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
a vida mais feliz,
a pátria mais amada.

Oscar Niemeyer

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

 
 
Vivo dos meus amigos. Necessito deles.
E reservo as horas para eles como se tivesse uma consulta com o dentista.
Porque sem amigos, já não fica mais nada.
Chamo-os, busco-os, e nos encontramos para a mais formidável das aventuras:
conversar, conversar, conversar...

                                  Gabriel Garcia Márquez

sábado, 7 de dezembro de 2013

Juguete Rabioso
                                                                           La Chicana

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



A Vontade de Fazer

São coisas pequeninas. Não acabam com a pobreza, não nos tiram do subdesenvolvimento, não socializam os meios de produção e de câmbio, não expropriam as cavernas de Ali Babá. Mas, talvez, desencadeiem a alegria de fazer e a traduzam em atos. E, por fim, atuar sobre a realidade e muda-la, ainda que seja um pouquinho, é a única maneira de provar que a realidade é transformável.
 
                                                    Eduardo Galeano. Tradução livre.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013



Lua congelada
 
Com esta solidão
ingrata
tranquila
 
com esta solidão
de sangrados achaques
de distantes uivos
de monstruoso silêncio
de lembranças em alerta
de lua congelada
de noite para outros
de olhos bem abertos
 
com essa solidão
desnecessária
vazia
 
se pode algumas vezes
entender
o amor.
 
Mario Benedetti em: "O Amor, as mulheres e a vida"

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Beijo, Gustav Klimt


Cumprimentava-me com sua pele
 enquanto seus olhos me diziam segredos.
Sua boca me olhava e seu corpo gritava em silêncio
pelo que estávamos por ser.
 
 Brando em: "Bocanadas y Besos"
 Tradução livre.

domingo, 1 de dezembro de 2013

 
Instruções para dar corda no relógio

Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada.   

                      Julio Cortázar, Histórias de Cronópios e de Famas, 1962