domingo, 28 de agosto de 2011

Adélia Prado

Para Comer Depois

Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
"Eh bobagem! "
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.

                      Adélia Prado

3 comentários:

Carla disse...

A poesia de Adélia Prado é uma das mais complexas, melhor poeta que já vi. Amo a sua obra.

Edinha disse...

Bom demais começar a semana poeticamente com Adélia. Meu "país de memória e sentimento" também é abarrotado das tessituras cotidianas do interior das Gerais que Adélia poetiza de forma tão sublime. Ah! essas Gerais... Que sua semana tenha muita poesia, Marcela, bjims!

Marcela disse...

Adélia me encanta! Sua obra é um elogio à simplicidade, sua matéria-prima é o prosaico da vida. Talvez a felicidade consista em encontrar a beleza no cotidiano. Talvez felicidade não seja algo grandiloquente, mas voltar o olhar para as pequenas poesias diárias. Adélia encontra poesia até no ato de limpar um peixe!! Ah, os poetas...
Um beijo, minhas queridas