domingo, 25 de setembro de 2011

Soneto do Vinho

Em que reino, em que tempo e sob que silenciosa
Conjunção planetária, em que secreto dia
Que o mármore não guardou, surgiu a generosa
E única inspiração de inventar a alegria?

Ah! com outonos de ouro a inventaram. O vinho
Vermelho e ardente flui banhando as gerações
Como o rio do tempo, e em seu árduo caminho
Seu cântico nos doa, e seu fogo e seus leões.

Na jubilosa noite e na jornada adversa
Ele exalta a alegria ou suaviza o espanto.
E o ditirambo que hoje, efusivo, lhe canto

Disse-o o árabe uma vez, cantou-o outrora o persa.
Vinho, ensina-me a ver a minha própria história
Como se fora já cinza e pó na memória.

                    Jorge Luis Borges em: O Outro, O Mesmo

3 comentários:

Edinha disse...

Olá Marcela, daqui a poucos os dias tumultuados terminaram e voltarei a pousar com frequencia por aqui, por ora só no sobrevoo . Tem selinho pra vc, bjims e ótima semana.

Anônimo disse...

Borges é um dos contistas e poetas, que pôe a paixão nas letras, e inspiram as palavras a terem orgasmos múltiplos. Abraços Renato

Marcela disse...

Edinha, querida, já estava com saudade. Muito bom revê-la por aqui. Gracias por mais esse presente carinhoso.

Renato, que linda definiçao! Poesia pura!
Obrigada por enriquecer meu cantinho.

Uma ótima semana para vcs! bjs.