"Três anos em Belo Horizonte haviam me transfigurado. Vivia no planeta Terra sabendo detalhadamente o que acontecia mundo afora. Não só sabendo, mas tomando partido. Isso aprendi com os comunistas, a ser responsável pelo destino humano. Tudo o que ocorra a um povo de qualquer parte me interessa supremamente, obriga-me a apoiar-me ou opor-me, impávido. Essa postura ética que presidiu toda a minha vida, conduzindo-me na ação política, em todas as instâncias dela, é um de meus bens mais preciosos. Dói-me hoje ver que a juventude de agora não tem nada assim para fazer as suas cabeças e ganhá-los para si mesmos e para seu país."
Darcy Ribeiro em: Revivendo o que Vivi
6 comentários:
Pois é Marcela, a juventude de hoje é o país do amanhã...
...encontre uma colega que está dando aula em uma escola municipal de São João da Barra, os seus relatos em relação ao comportamento dos alunos em sala de aula não são dignos deste blog. Lembrar Darcy é sempre salutar, nos anima e nos faz pensar que no final do túnel existe um luz.
Darcy se foi, mas o vigor de suas palavras permanece e nos move.
bjs.
...ética, eis o elemento nuclear, não obstante se encontre demodé. Aliás, continuo convicto: ela é o limite para o pragmatismo.
Homenagem a Darcy Ribeiro
“... Há duas maneiras de fazer política: uma é pelo poder; a outra é pela história. Darcy fez política pela história. O poder era o meio, o meio que ele usava para deixar suas marcas na História deste País e do resto do mundo. Por isso, a homenagem a um homem como Darcy Ribeiro deve ser feita falando do seu legado para a História, porque ele deixou, sim, um legado para a História. E um legado amplo, que, como se pode ver, não está limitado apenas a uma ou a outra ação, a um ou a outro campo. (...) Por meio de sua vivência com povos indígenas, numa época em que não havia esse sentimento de defesa da diversidade e índios eram vistos como atraso, ele viveu com eles, escreveu sobre eles e deu uma contribuição mundial para entendermos como essa sociedade, essa parcela do Brasil, funciona, vive e produz. (...) creio foi uma sexta-feira, Darcy Ribeiro disse a uma grande profissional do Hospital Sarah Kubitschek, a Drª Lúcia, Lucinha, como ele a chamava: “Eu preciso desesperadamente dar uma aula, mas eu quero dar aula a uma criança, me arranja uma criança”. E a Lucinha levou o filho Felipe, que tinha 10 anos, e Darcy Ribeiro deu uma aula de Antropologia para o menino. E, nessa aula – ela lembra e o menino nunca vai esquecer –, entre as coisas para mostrar o que é uma sociedade, ele mostrou porque é preciso fazer uma universidade e um sambódromo, porque um é a cultura da elite e o outro é a cultura do povo. E esse casamento, ele dizia a um menino de 10 anos, é aquilo que é preciso fazer no Brasil.
Ele terminou a aula, tomou banho, barbeou-se, como me disseram, colocou perfume – porque era vaidoso, como Vera deve saber –, deitou-se, entrou em coma e morreu poucas horas depois. O homem que fez tanta coisa morreu como professor, por opção dele. Morreu como professor de crianças, por opção dele. E o que parece um rebaixamento – professor de criança –, na verdade, é a elevação máxima que ele percebeu, certamente inconsciente, a elevação máxima de quem está na véspera de entrar para a História, porque ele foi um político da História, não do poder. Por isso estamos nos lembrando dele agora, porque a História é que mantém viva a memória de cada um de nós que faz política. O poder passa, o legado fica. Darcy deixou um legado ...”
Senador Cristovão Buarque, discurso feito em 21/03/2007
*Cristovam Buarque
*Cristovam Buarque
Postar um comentário