O Amor Bate na Aorta
O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.
Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...
Carlos Drummond de Andrade
2 comentários:
NEM EU*
Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu,
Quem inventou o amor
Não fui eu, não fui eu,
Não fui eu, não fui eu,
Nem ninguém.
O amor acontece na vida
Estavas desprevenida
E por acaso eu também
E como o acaso é importante, querida,
De nossas vidas a vida,
Fez um brinquedo também!
Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu,
Quem inventou o amor
Não fui eu, não fui eu,
Não fui eu, não fui eu,
Nem ninguém.
Autoria: Dorival Caymmi
Segundo o pesquisador e historiador Dárcio Fragoso esta Música foi gravada originalmente pelo autor em 1952, fez enorme sucesso constituindo-se num marco da música romântica dos anos 50. Recebeu outras gravações de Ângela Maria, Lúcio Alves, Doris Monteiro, Gal Costa, Dick Farney, Trio Surdina, Nana Caymmi, Jamelão e outros cantores.
Obrigado por utilizar a imagem de uma obra minha para ilustrar este belo poema de Carlos Drummond de Andrade!... Sylvio Paiva ;)
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