Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram
sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram
sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.
Eduardo Galeano em O livro dos abraços
3 comentários:
Cara Marcela,
cá neste blog tu falas tanto em memória, e este contito do Galeano dialoga intimamente com certas minhas lembranças; sabe, fiz Teatro por 10 anos; era teatro amador (no sentido daquele que ama) mas nos arvorávamos em ousadias de ocupar palcos de certa importância, como o Tereza Rachel, o Glaucio Gill, o Ziembinski e outros. Pois, em muitas das apresentações, era assim também: havia mais atores no palco que público na plateia; e era exatamente assim que nossos diretores diziam: "Entrem e façam o melhor espetáculo do mundo para aquela senhora e seu neto!". Nós, jovens inexperientes, loucos para sermos dispensados e irmos para a praia, não alcançávamos o ensinamento daqueles que, hoje, reconheço como Mestres. Fazíamos como eles pediam, mas só hoje entendo verdadeiramente a nobreza daquele agir.
Felipe, sou uma mulher de sensibilidades. Seu relato também me emociona.
Grata por partilhar aqui sua experiência. Apareça sempre! bjs.
Felipe, sou uma mulher de sensibilidades. Seu relato também me emociona.
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