segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Silêncio

               Uma longa mesa de amigos, na churrascaria Plataforma, era o refúgio de Tom Jobim contra o sol do meio-dia e o tumulto das ruas do Rio de Janeiro.
               Aquele meio-dia, Tom sentou-se em mesa separada. Num canto, ficou tomando chope com Zé Fernando Balbi. Compartilhava com ele o chapéu de palha, que usavam em turnos, um dia um, no dia seguinte o outro, e também compartilhavam outras coisas:
               - Não - disse Tom, quando alguém chegou perto. - Estou numa conversa muito importante.
               E quando outro amigo se aproximou:
               - Você me desculpe, mas nós temos muito para falar.
              E a outro:
               - Perdão, mas nós dois estamos discutindo um assunto sério.
              Nesse canto separado, Tom e Zé Fernando não se disseram uma única palavra. Zé Fernando estava em um dia fodido, num desses dias que deveriam ser arrancados do calendário e expulsos da memória, e Tom o acampanhava, calando chopes. E assim ficaram, música do silêncio, do meio-dia até o final da tarde.
             Não tinha mais ninguém por lá quando os dois foram-se embora, caminhando devagar.

                                              Eduardo Galeano in: Bocas do Tempo 

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