quarta-feira, 29 de junho de 2011

Portinari



O Lavrador de Café
Portinari



Este papo sobre cultura popular me deu vontade de devanear um pouco.. Entáo vou falar muitas bobagens, posto que não tenho nenhum conhecimento aprofundado sobre arte, aliás, sobre nada.
Quero falar sobre a subjetividade da arte (no caso, a minha). Deixemos para os especialistas e os poetas a definição. A mim me basta a experiência sensorial, oriunda, obviamente, do meu repertório de vivências acumuladas. Para além das teorias, das estéticas, dos conceitos, é um sentir, uma ligaçao direta, sem entremeios, com a alma.
Um quadro de Monet me encanta pela beleza do seu pincel impressionista - arte também é a estética - mas nao  me arrebata, talvez porque retrate uma realidade distante da minha. Que os especilistas nao me ouçam!
Mas quando vi os pés inchados dos mulatos de Portinari, eu os reconheci. Sao os mesmos pés inchados dos trabalhadores dos cafezais da minha infância, os pés inchados de todos os trabalhadores das lavouras de ontem e de hoje do meu país. Sao os pés dos homens que ajudaram a fazer este país, pisaram fundo nos mais longíquos grotões e foram pisados na sua dignidade. Sao os pés inchados e calejados de todos os humilhados da história.
Acho que o meu apreço pela cultura popular tem a ver com a esta identificação - uma relação visceral - nao desmerecendo o erudito, que também tem seu valor, e náo há escala de valoração entre popular e erudito, apenas são diferentes. Ambos estáo presentes e sáo elementos constitutivos do que é hoje a cultura brasileira em toda a sua diversidade.
Portinari é um arrebatamento, mas isto não significa que a arte tenha necessariamente que ter uma ligaçao com as causas sociais.
A arte é livre, libertária e libertadora.  



Tenho tentado fazer deste blog um exercício diário porque, se bem me conheço, se náo criar esta disciplina, a preguiça me toma de jeito. Viajarei amanha e ficarei quatro dias sem blogar. Será também uma oportunidade para refletir, inclusive sobre a existência deste espaço, já que estou me expondo bem mais do que pensava. A ideia inicial era apenas divulgar agenda cultural, postar uns poeminhas dos autores que gosto, umas musiquinhas, mas como nada na vida se tem controle absoluto, cá estou eu, falando pelos cotovelos.
Bem, deixemos este assunto para depois..

4 comentários:

Renato disse...

Sempre fiel à pintura, ao Brasil
e ao comunismo, Portinari pintou e recriou o nosso país. Um beijo e sucesso.

Anônimo disse...

Oi, Marcela, conheci seu blog neste final de semana e achei bem interessante. Vou ficar vindo por aqui sempre para dar uma olhada. Bjs Julia

Fabiano disse...

Marcela
Espero que meu entendimento esteja equivocado ao pensar que, no último parágrafo você cogite encerrar este blog, acho que não merecia uma decepção desta magnitude, rs rs rs rs rs rs, penso que você está se tornando uma verdadeira Poetisa, pois até em suas elucubrações você aparenta transcender a razão, volta pro chão dos mortais e continue conosco viu.
Sobre o quadro O Lavrador de Café, de Cândido Portinari, a “semana de artes moderna” de 22 fez muito bem para o veio artístico brasileiro, pois tornou a arte aqui presente mais próxima do seu próprio país, do seu povo, deixando um pouco de lado toda aquela tradição estética européia que dominava, Portinari é de uma geração posterior, mas com certeza bebeu muito dessa água, um dos artistas brasileiros mais badalados inclusive com a pintura do famoso quadro Guerra e Paz, que se encontra na sede da ONU. O Lavrador de Café, que já foi roubado, encontra-se no MASP.
Como foi descrito por ti com bastante propriedade é uma arte viva realista que nos remete ao nosso passado, nosso cotidiano, nos levando a uma reflexão sobre nossa sociedade.

Anônimo disse...

Senhorita blogueira (M.D.),

Sou um ser inculto, quiçá uma cria do mulato retratado por Portinari ou de sua metáfora, qual seja de um imigrante que, fugindo da fome que assolava países europeus e asiáticos no final do século XIX e início do século XX, ao Brasil veio para trabalhar nas lavouras de café.
O quadro lembra minha infância, dos cafezais que povoavam as terras que rodeavam a pequena cidade onde nasci.
De arte nada conheço, seja ela literatura, poesia, música, teatro etc..
Entretanto, da vida conheço um pouco. O empirismo utilizado no cotidiano, fez-me dela aprendiz. Deu-me ao menos uma pequena sensibilidade para apreciar a beleza, restrita esta ao meu particular conceito.
Dentro deste meu conceito de belo, aprecio o que você escreve.
Acostumei-me, todos os dias, a ler o seu blog e admirar sua forma de ver a arte e o mundo.
Imagino que, enquanto escrevo, você deve estar refletindo sobre o destino a ser dado ao seu blog.
Será ele mera reprodução de textos, poesias, músicas etc. ou retratará ele a ebulição criativa de sua mente privilegiada?
O caráter pessoal do blog, com a “fala pelos cotovelos”, pode, na sua ótica, haver gerado uma exposição que lhe é indesejada, até mesmo porque sua timidez e sua exacerbada autocrítica assim acabam por sentenciar.
Entretanto, egoisticamente vou lhe fazer um pleito. Não pare!!!
Por favor, não se limite a divulgar agenda cultural, poemas etc.. Comente-os, v.g. como fez com o quadro de Portinari!!!
Continue “falando pelos cotovelos”. Continue nos brindando diariamente com um pouquinho de você.
É impossível dimensionar o tanto que gosto de ouvir (ler, por óbvio) você!!! Adoro beber das suas impressões, dos seus relatos, dos seus comentários!!!
Falo somente por mim, entretanto imagino que esta seja a opinião de todos os que frequentam seu blog.
Para finalizar, permita-me citar o grande filósofo Vicente Matheus, folclórico presidente do Corinthians: “Quem está na chuva é para se queimar”!!!
Você está na chuva, metáfora da pretensa excessiva exposição, mas saiba, não se queimará. Aliás, esta chuva, que é branda, apenas contribuirá para você, como flor que é, diariamente desabrochar!!!