É bem verdade que ostentaçao nao é nada nobre. Já decorei como mantra que a gente é o que é, nao o que tem..mas confesso que alguns apegos materiais estão entranhados em mim. Livros autografados, por exemplo. Aproveito o ensejo para avisar aos navegantes, e assim evitar eventuais constrangimentos que, dada a esta minha fraqueza, eles náo estão disponíveis para empréstimo.
Náo há nada que me envaidece mais do que meus livros autografados. Minha loucura se manifesta não só no apreço à dedicatória, uma simples assinatura já me deixa feliz. Feita de modo mecânico e repetitivo numa mesa de autógrafos, mas todas minhas, todas dando pessoalidade ao livro, que passa a ser único e personalíssimo. Coleciono algumas: Paulo Freire, Thiago de Mello, Elisa Lucinda, Nélida Piñon, Afonso Romano de Sant'anna..
Por acaso descobri na estante uma assinatura preciosa, uma relíquia que me deixou eufórica, a ponto de vir aqui compartilhar esse orgulho pessoal. Ao reler um livro de crônicas do Rubem Braga, comprado há algum tempo numa feira de livros ou num sebo (nao me recordo ao certo), deparei com uma dedicatória do cronista maior datada de dezembro de 1977. Já conferi na net, é do próprio! Por via das dúvidas, vou omitir o nome do destinatário da dedicatória...vá que ele apareça para reivindicar o prêmio? Consta do meu livrinho já puído e amarelado: "Ao fulano, com um abraço do Rubem. Feliz 1978! Rio, dez. 77."
Foi para o fulano porque náo houve tempo hábil para que fosse dedicado a mim. Nao importa. É do Rubem Braga, meu ídolo, meu cronista maior, meu poeta em prosa. Especialista em passarinhos, Cachoeiro, céu, mar, mato, elefante, bichos em geral, alma, gente e em nada. Sim, o danado não foi superado na arte de escrever sobre o nada, ou melhor, partir do nada e chegar ao mais profundo onde um texto pode ir. Numa das crônicas mais lindas que conheço, "Lembrança de um Braço Direito", ele relata o momento no qual o avião em que viajava passava por uma forte turbulência. De repente, tomado pelo medo, enxerga o braço da passageira ao lado. Pronto, o suficiente para lhe restituir a vida.
É como disse o Chico: "os poetas como os cegos podem ver na escuridão."
Rubem Braga não só vê, como irradia luz em crônicas de uma vida inteira.
E sigo exaltando a sua arte e ostentando meu livro autografado pelo Rubem!
Rubem Braga não só vê, como irradia luz em crônicas de uma vida inteira.
E sigo exaltando a sua arte e ostentando meu livro autografado pelo Rubem!